
Receita Federal doa mochilas apreendidas a congresso de educação ambiental
Ação conjunta de órgãos públicos transforma mercadoria irregular em símbolo da luta por justiça climática e educação popular; cada congressista receberá uma mochila
Uma carga de mochilas apreendida pela Receita Federal acaba de ganhar um novo significado: símbolo da resistência socioambiental, da educação transformadora e da construção de um futuro comum. Ao invés de serem descartadas, as mochilas foram doadas para uso pedagógico e serão entregues a todos os participantes do VIII Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Língua Portuguesa, que acontece entre os dias 21 e 25 de julho, na Fundação Matias Machline, em Manaus (AM).
A origem das mochilas revela a complexidade do sistema global de produção e consumo. Fabricadas na Ásia para uma grande empresa europeia, foram apreendidas em um porto do Sul do Brasil por irregularidades fiscais. A sonegação impediu que os impostos fossem revertidos para políticas públicas como educação, saúde e meio ambiente.
A virada na história aconteceu quando uma educadora ambiental, atuante no Programa Itaipu Mais Que Energia, enxergou uma possibilidade de transformação: e se essas mochilas, produto de um sistema marcado por desigualdades, pudessem servir à educação ambiental popular?
A proposta mobilizou diferentes instituições públicas. Após meses de articulação, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Receita Federal e a Itaipu Binacional viabilizaram a doação. Os caminhões do Prevfogo/Ibama percorreram mais de 4 mil quilômetros para transportar as mochilas até Brasília, de onde foram encaminhadas a Manaus.
Agora, elas chegam às mãos de mais de 1,6 mil congressistas, representando dez países da lusofonia. Mais do que brindes, as mochilas passam a carregar a história de uma luta coletiva por sociedades sustentáveis, a denúncia das cadeias globais de injustiça e o compromisso com a construção de um novo projeto civilizatório.
“Essas mochilas, antes inseridas em uma cadeia injusta de exploração e evasão fiscal, agora vão carregar, com nossos congressistas, saberes, sonhos e ferramentas de transformação. Elas representam o que queremos com a educação ambiental popular: reverter desigualdades e fortalecer os territórios”, destaca o diretor de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e um dos organizadores gerais do evento, Marcos Sorrentino.
A entrega também marca o compromisso do congresso com a agenda da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que será realizada no Brasil em 2025. O evento integra a preparação da sociedade civil para o encontro global, promovendo reflexões profundas sobre justiça climática, responsabilidade compartilhada e transição ecológica.